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‘O agente secreto’, de Kleber Mendonça Filho, é eleito melhor filme pelo júri da crítica em Cannes

Longa protagonizado por Wagner Moura conquista dois prêmios na edição de 2025 do festival e consolida protagonismo do cinema brasileiro na Croisette

Na manhã deste sábado (24), o cinema brasileiro voltou a ser celebrado internacionalmente com a vitória do filme O agente secreto, de Kleber Mendonça Filho, no Festival de Cannes 2025. O longa-metragem foi eleito o melhor filme da mostra pelo júri da crítica da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci), consolidando-se como o maior destaque da edição antes mesmo da aguardada cerimônia de entrega da Palma de Ouro.

Além do prêmio da crítica, O agente secreto também recebeu o Prix des Cinémas Art et Essai, concedido por exibidores europeus a produções que demonstram compromisso artístico com o circuito alternativo de exibição. Com isso, Kleber Mendonça Filho, já reconhecido por obras como Aquarius e Bacurau, firma-se mais uma vez como uma das vozes mais influentes do cinema latino-americano contemporâneo.

Uma história rica, inquietante e necessária

A escolha do filme pelo júri da Fipresci foi justificada com uma declaração contundente: “evoca um tempo e lugar e uma história rica, estranha e profundamente preocupante“. Embora ainda não haja divulgação oficial do enredo completo, O agente secreto é descrito como uma trama de suspense político ambientada entre o Brasil e a Europa, abordando temas como espionagem, regimes autoritários e manipulação da informação.

Protagonizado por Wagner Moura, o longa também traz no elenco nomes como Maeve Jinkings e Jesuíta Barbosa, marcando uma colaboração poderosa entre alguns dos maiores talentos do cinema nacional atual. A direção de fotografia é assinada por Pedro Sotero, parceiro recorrente de Kleber, e a trilha sonora original, segundo informações preliminares, foi composta pelo músico pernambucano DJ Dolores.

Dupla consagração internacional

O Prix des Cinémas Art et Essai é um reconhecimento de peso entre os filmes de arte exibidos em Cannes. O prêmio valoriza produções que estimulam o pensamento crítico, o debate e a preservação da diversidade cultural nos cinemas. Nas edições anteriores, foram agraciadas produções como La chimera, da italiana Alice Rohrwacher, e A semente do fruto sagrado, do iraniano Mohammad Rasoulof — ambos cineastas de prestígio no circuito europeu.

Ao receber esse reconhecimento, Kleber Mendonça Filho não apenas celebra mais uma conquista em sua trajetória autoral, como também amplia a presença do Brasil em espaços cinematográficos globais. A vitória reforça a relevância do cinema nacional mesmo em tempos de instabilidade política e cortes de verbas para o setor.

Kleber Mendonça Filho: voz do cinema brasileiro

Nascido no Recife, Kleber Mendonça Filho começou sua carreira no cinema como crítico e curador antes de se consolidar como diretor. Sua estreia em longas-metragens ocorreu com O som ao redor (2012), seguido pelo aclamado Aquarius (2016), estrelado por Sonia Braga, e pelo premiado Bacurau (2019), co-dirigido com Juliano Dornelles, que levou o Prêmio do Júri em Cannes.

Com Ainda estou aqui, documentário lançado em 2023, Kleber já havia explorado a força da memória e dos espaços urbanos no Recife, seu território criativo. Agora, com O agente secreto, ele amplia sua abordagem para questões geopolíticas, em um filme que mistura drama, suspense e comentário social.

Em entrevistas anteriores, o diretor já havia revelado seu desejo de produzir um filme de espionagem à brasileira, que fosse ao mesmo tempo universal e profundamente enraizado em questões locais. Ao que tudo indica, a obra atingiu esse objetivo com excelência.

Um marco para o cinema brasileiro em 2025

A conquista de dois prêmios importantes em Cannes representa uma vitória não apenas pessoal para Kleber e sua equipe, mas também para o audiovisual brasileiro. Em um momento em que o setor cultural luta para se reerguer diante de sucessivos desafios, O agente secreto surge como símbolo de resistência e potência criativa.

Em redes sociais, o ministro da Cultura, Margareth Menezes, celebrou a premiação e afirmou que “o reconhecimento em Cannes é mais uma prova de que o cinema brasileiro é plural, inteligente e fundamental”. Diversos nomes da classe artística também se manifestaram, parabenizando Kleber e o elenco pela conquista.

Ainda não há data oficial para a estreia comercial de O agente secreto no Brasil, mas a expectativa é que o longa seja exibido ainda este ano em festivais nacionais como o Festival do Rio e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, antes de chegar às salas de cinema e plataformas de streaming.

Resposta crítica e expectativas

A recepção da crítica internacional foi amplamente positiva. Jornais como Le Monde e The Guardian destacaram a maturidade narrativa do filme e a habilidade de Kleber em construir tensão política com sofisticação estética. Segundo a crítica do The Hollywood Reporter, “o filme combina um senso de urgência contemporânea com a elegância do cinema clássico de espionagem”.

A atuação de Wagner Moura também tem sido alvo de elogios, com muitos apontando sua performance como uma das mais marcantes da carreira. O ator, que já teve destaque internacional em Tropa de Elite, Narcos e Sérgio, parece ter encontrado em O agente secreto mais um papel decisivo.

Palco de prestígio internacional

Criado em 1946, o Festival de Cannes é um dos eventos de cinema mais prestigiados do mundo, sendo palco de estreia de obras que marcaram gerações. Conquistar um prêmio como o Fipresci ou o Prix des Cinémas Art et Essai não apenas projeta o nome de um filme, mas abre portas para distribuição internacional e participação em outras premiações importantes, como o Oscar e o BAFTA.

O reconhecimento de O agente secreto reforça o espaço do Brasil nesse circuito de elite, dando continuidade ao legado construído por nomes como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Walter Salles e o próprio Kleber Mendonça Filho.

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